Minha paixão de infância foi a Xuxa. Gostava de vê-la interpretando Lua de cristal. Numa letra que diz assim “Tudo pode ser, só basta acreditar”. Eu era jovem demais para desconfiar que a Xuxa mentia. Hoje eu digo “Nem tudo pode ser, pode acreditar”.
Mas fiz uso do exemplo da Xuxa para tratar de outro assunto.
Durante muito tempo consumi autoajuda. Vasculhava a internet atrás de conteúdos que ensinassem a como manter uma comunicação eficaz, como vencer a timidez, como ter mais coragem, como me vestir melhor, como conquistar uma mulher (tenho vergonha disso). Em síntese, podia tudo, era só acreditar – e correr atrás.
Num desses cursos, o ministrante, que era uma espécie de guru, prometia a excelência humana. E o que seria isso? Que os alunos, desde que se dedicassem, poderiam ser perfeitos em todas as áreas da vida.
Fiquei intrigado: havia no mundo alguém capaz de tornar infalível? Se máquinas falham, o que esperar dos humanos, seres tão complexos e diversos em suas características? Desconfiei que tudo não passava de enganação. Além disso, o negócio escondia uma outra promessa falsa: você pode ser feliz o tempo inteiro. E eu não queria ser feliz em tempo integral. Só um bobo pode viver em estado de graça a vida toda. Diferentemente da Xuxa, Odair José já cantou “Felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes”.
A grande sacada dos gurus que prometem a felicidade eterna é fazer as pessoas acreditarem que comprando cursos e mais cursos podem chegar a esse objetivo. Mas o máximo que essas pessoas conseguem é ficar frustradas – e falidas. Estou convencido que a busca pela felicidade incessante guarda um antagonismo: um mergulho profundo na infelicidade.
Para fazer justiça, preciso dizer que existem coisas úteis nos tais cursos oferecidos. Interpretação de linguagem corporal, dicas para controle de ansiedade e meditação, por exemplo. Autoajudas amparam-se muitas vezes em meios científicos, como a psicologia e a filosofia para embasar métodos, digamos assim, questionáveis.
Os cientistas garantem: não há receita para a felicidade. Por outro lado, os estudos no campo da felicidade dão algumas pistas; boas amizades e hobbies saudáveis parecem ser hábitos alvissareiros.
Da minha parte, sugiro visitas regulares ao psicanalista. No consultório, enquanto falo e me escuto, é onde chego às conclusões mais racionais acerca dos meus problemas. Acredito que terapia constante é o remédio eficaz e duradouro para de verdade autoajudar-se.
Dica de documentário: Happy (2011).